quarta-feira, 22 de maio de 2013

Linguagem e crença africanas são fundamentais para identidade afrodescendente



Nessa perspectiva o coordenador do Ifá Heritage Institute, Wande Abimbola, discorreu sua palestra no Seminário Temático promovido pela SEPPIR em Belém-PA. Para o professor nigeriano, o Brasil está vivendo um momento importante de empoderamento do povo negro, que precisa fortalecer sua identidade africana
Linguagem e crença africanas são fundamentais para identidade afrodescendente
Makota Valdina participou do debate e disse que o uso da tecnologia é ferramenta indispensável ao enfrentamento do racismo

Wande Abimbola, coordenador do Ifá Heritage Institute, foi palestrante no “Seminário Territórios Tradicionais Negros: Desenvolvimento e Enfrentamento ao Racismo”, realizado pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial - SEPPIR, sexta-feira (17-05), em Belém-PA. Para o intelectual nigeriano, o Brasil está vivendo um momento importante de empoderamento do povo negro, que precisa fortalecer sua identidade africana.

Abimbola defendeu a preservação de elementos da língua e da crença africanas como estratégia para a população negra brasileira manter sua identidade africana. “Tem que ir para os terreiros escutar os cânticos, a língua”, afirmou o professor, para quem o resgate da identidade africana pode passar também pela criação de um alfabeto e pela convenção de um acordo ortográfico que possibilitem o uso de idiomas africanos no Brasil.

Esse processo de domínio da língua africana, segundo ele, deve passar pela educação formal e contar com reforços além da sala de aula. “A educação, em vez de nos libertar tem sido uma forma de nos alienar da nossa cultura, porque, infelizmente, está nas mãos dos colonizadores”, sentenciou o nigeriano. “Os terreiros têm escolas próprias, mas podemos fazer muito mais cursos rápidos, estudar a história dos candomblés, dos terreiros, de como eles se estabeleceram”, disse ainda Abimbola.

Destacando a importância do empoderamento das mulheres negras, Abimbola apresentou alternativas para o fortalecimento do povo negro. Na área econômica, ele falou sobre um sistema indígena de poupança coletiva adotado na região Yorubá da Nigéria, que consiste em coletas semanais e utilização do lucro na solução de prioridades do grupo.

O professor também convocou a participação dos presentes na 10ª Conferência Mundial dos Orixás (24 a 29/06, na Nigéria), ao falar sobre a necessidade de interação com outras comunidades negras no Brasil e no mundo. A mesma atividade já foi realizada em Salvador, São Paulo e no Rio de Janeiro.

Uso da Tecnologia
Para a liderança tradicional de matriz africana, Valdina Oliveira Pinto, Makota Valdina, o uso da tecnologia é ferramenta indispensável ao enfrentamento do racismo na atualidade. “As entidades, inquices, voduns, querem que a gente use essas armas para batalhar hoje, porque é preciso saber preencher um projeto, lidar com sistemas para acessar recursos públicos”, explicou. “A gente tem que criar a nossa história conforme nossa realidade”, declarou ainda Makota, que também participou da primeira mesa de debate mediada pela secretária de Políticas para as Comunidades Tradicionais da SEPPIR, Silvany Euclênio.

A ministra Luiza Bairros (Igualdade Racial), falou sobre a importância da realização da atividade no Pará, afirmando que o sucesso do seminário possibilita vislumbrar maiores e melhores parcerias entre a SEPPIR e o governo do estado, “de maneira que consigamos emprestar o apoio necessário para que a promoção da igualdade racial e o enfrentamento ao racismo possam resultar em ações concretas nas vidas das pessoas”.

O professor da Universidade do Estado do Amazonas, Alfredo Wagner, que é coordenador do Núcleo Cultura e Sociedades Amazônicas – CESTU, compartilhou suas impressões sobre o tema na mesma mesa que teve a presença do procurador Felício Pontes, da Procuradoria Geral da República.

Felício falou sobre a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que trata dos povos indígenas e tribais, foi ratificada pelo Brasil em 2002 e entrou em vigor em julho de 2003. Os países signatários da convenção se comprometem a consultar os povos interessados quando forem previstas medidas legislativas ou administrativas que os afetem diretamente, garantindo a efetiva participação dos povos indígenas e tribais na tomada de decisões.

Seminários Temáticos
O Pará sediou o quinto debate da série promovida pela SEPPIR com foco na III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, a III CONAPIR, que acontece de 5 a 7 de novembro, em Brasília, com o tema Democracia e Desenvolvimento por um Brasil Afirmativo. O próximo acontece nesta sexta-feira (24/05), em Porto Alegre, sobre o tema Oportunidades para a Juventude Negra.

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