quarta-feira, 14 de março de 2012

Crianças do Candomblé dizem estar com leucemia para fugir da discriminação

Só os brancos nascem?

(março de 2012) Esta é edição deste mês de março, 2012, da Revista Pais & Filhos, Editora Manchete. Feita em São Paulo, tem circulação e renome nacional nesta área de cuidado infantil, ao lado da Revista Crescer. Fofinho, não? Aliás, todas as crianças são fofíssimas, despertando aquela vontade de encher de cheiro aquela bolinha rosa, loira e de olhos azuis. Ops...como assim? É, então, amig@s. Algo muito simples: para a Revista Pais & Filhos, só os brancos nascem, e preferencialmente os brancos loiros e de olhos claros. Só as crianças brancas são fofinhas. Num país em que @s negr@s são, pelo menos, 51% da população, nenhuma fofinha criança negra - nenhumazinha - recebeu espaço de capa da Pais & Filhos no tempo de um ano inteiro. Mostro a vocês aqui, retrospectivamente, as capas de março de 2012 a março de 2011 - 13 edições completamente brancas. Para um país 100% branco talvez - reforço, talvez - isso não fosse tão indecente.
(fevereiro de 2012) Acontece que somos um país de maioria negra. Em alguns estados, a população negra é até pequena; em outros, predominante. Negras e negros de várias tonalidades, vários tipos corporais, diversas etnicidades; cabelo pixaim, enrolado, misturado, nariz mais largo ou mais fino, negritudes diversas que no entanto são reconhecidas socialmente pela sua matriz africana e toda a história que comporta o corpo negro. Essa história indesejável, para a matriz europeia, tem sido constantemente relegada ao esquecimento das páginas escritas - mas não é esquecida de nenhum modo: porque, se não nas páginas dos historiadores clássicos, no corpo das pessoas que a carrega. Por isso o corpo d@ negr@ é tão negado, invisibilizado. Porque conta uma história indesejável a uma ideologia hegemonicamente branca.
(janeiro de 2012). E se tem algo que a história negra carrega é acerca do fundamento da família. A família, nos sentidos afro-brasileiros (assim como nos povos nativos), é quem sustenta, congrega, fortalece, permite existir e resistir. A mãe que conduz os filhos, pelejando duramente para garantir suas vidas neste mundo sob leis humanas tão desumanas, é a mulher negra que centraliza a força da casa, do terreiro, da comunidade. Se não é mãe de sangue, é mãe-madrinha, mãe-de-santo, mãe-vó. A família, para os povos negros, tem a força da origem e da continuidade. É o espaço em si de guarnição - espiritual e social. Daí que se formam quilombos: numa casa ou numa rua, mães, tias, avós, irmãos, primos e primas se aquilombam, sem a classificação dicotômica de "família nuclear" e "família extensa", comum à família da cultura burguesa.
(edições de dezembro a setembro de 2011) Por que não temos imagens de crianças negras em um ano de edições da Revista Pais & Filhos? Porque pais, mães e filhos e filhas negr@s não interessam à revista. Ela simplesmente assume o padrão racista do branco desejável, negando terminantemente a negritude brasileira. O maior problema dessa postura racista é que perpetua a negação da família negra aos olhos da sociedade em geral. Primeiramente, impõe uma imagem familiar que exclui os pais e filhos negros; nega, portanto, às mães negras (porque às mães é destinada a revista, apesar do título) se sentirem parte de uma dimensão materna - o cuidado infantil. Consequentemente, nega aos bebês negros o direito de pertencerem a este universo dos anjinhos, dos serezinhos que devem receber cuidados e mimos especiais.
(edições de agosto a abril de 2011) Bem, está chegando a hora de preparar o almoço. Deixo vocês, leitoras e leitores, com estas imagens e algumas reflexões. Em um ano apenas de publicação, o que somente uma revista de maternagem e cuidado infantil foi capaz de semear? Não vejo bons frutos nisto. Abaixo, a mais nórdica das capas do universo desta breve pesquisa, publicada no mês de março de 2011.
Luther King, dá uma dica a mais de como realizar teu sonho! 

terça-feira, 13 de março de 2012

Promotor da editora abril humilha garotas negras na Bienal do Livro

“Pretas do cabelo duro” e “Não gosto de mulheres negras” foram expressões usadas pelo representante da Editora Abril para impedir que as meninas participassem de promoção
Meninas vão à delegacia registrar queixa
Alunos da Escola Estadual Guilherme Briggs, em Santa Rosa, Zona Sul de Niterói, sentiram na pele, na tarde da última segunda-feira, a dor do preconceito racial, que supostamente para muitos não ocorreria mais em nosso país, muito menos nas dependências de uma feira literária, onde nossa cultura é expressada das mais variadas formas, nas páginas publicadas por inúmeras editoras. Preconceito e injúria racial são crimespassíveis de prisão, no artigo 9º da Lei 7716/89.
De acordo com a diretora da escola, Alcinéia de Souza, o fatoentristeceu e chocou os alunos da unidade, uma das mais conhecidas do município, foi registrado ontem da Delegacia Legal de Icaraí (77ª DP), e formalmente encaminhado à Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos.
De acordo com a diretora do estabelecimento de ensino, na tarde de segunda-feira ela levou um grupo de 45 alunos que cursam o Ensino Médio da escola até a Bienal do Livro 2011, que se realiza no pavilhão do Riocentro, na Zona Oeste do Rio. No local, entusiasmados os alunos, com idades entre 15 e 17 anos, se espalharam para apreciar os vários estandes. Segundo os alunos e a diretora, num deles da Editora Abril ocorria uma promoção, onde eram distribuídos uma espécie de senha para que os jovens prestigiassem a tarde de autógrafos do ator e apresentador Rodrigo Faro. 

Entusiasmadas, duas alunas do colégio, de 16 e 17 anos, se dirigiram até um dos promotores, inicialmente identificado apenas como “Pedro” ou “Roger” – no intuito de conseguir uma das senhas. Do promotor as alunas ouviram (incrédulas) insultos do tipo: “Não vamos dar a senha porque vocês são pretas do cabelo duro”, e também “não gosto de mulheres negras, por isso não darei senhas para vocês”. Segundo uma das alunas, indignada com a ofensa ainda tentou argumentar com o promotor – “isso é um tipo de bullying, e pode te trazer problemas”. Com resposta o promotor rebateu, afirmando que isso não daria problema nenhum para ele”.
Como o grupo estava espalhado pelo pavilhão de exposições, a diretora da escola afirmou que só tomou conhecimento do fato quando os alunos já estavam deixando o evento. Revoltada, Alcinéia retornou ao estende da Editora Abril, à procura do responsável pela representação da empresa, que de acordo com ela pediu-lhe desculpas (omitindo a identificação do promotor) e alegando que tomaria providências. “Sentindo-se humilhada, uma das alunas disse que sequer conseguiu dormir de segunda para terça-feira”, explicou Alcinéia, que no início da tarde de ontem, acompanhada dos alunos, pais, e de um advogado (que também é professor da unidade), José Carlos de Araújo,registrou queixa de crime de Injúria e Preconceito Racial na 77ª DP. A distrital encaminhou o procedimento para a Delegacia Legal do Recreio dos Bandeirantes (42ª DP).
“Ensinamos os princípios da cidadania para os alunos, explicando inclusive que independe de quem sejam, e agora eles passam por uma experiência terrível dessas ? Os alunos da escola estão chocados com o que aconteceu. Fiz questão de comparecer junto com os pais desses estudantes na DP para relatar esse triste fato. Esses estudantes são como filhos pra mim”, disse Alcinéia. “Em pleno século XXI isso ainda acontece em nosso país. Esse fato não se esgota na esfera criminal. Não desejamos isso para nosso país”, disse José Carlos de Araujo, que junto com a diretora, os alunos, e com a cópia do registro levou também ontem o fato ao conhecimento da Secretaria Estadual de Assistência Social de Direitos Humanos para que providências sejam tomadas.
Representantes da Editora Abril não quiseram se pronunciar.
2011

Justiça condena governo do PSDB a pagar R$ 54 mil por promover racismo

Crianças da rede pública de ensino em São Paulo receberam material de cunho claramente racista
Governador Alckmin. Teoria incompatível com a prática
O Tribunal de Justiça de São Paulo condenou o governo estadual a pagar R$ 54 mil em indenização por ato de racismo. De acordo com a ação por danos morais, movida pela advogada Maria da Penha Guimarães, uma unidade de ensino distribuiu material pedagógico com conteúdo discriminatório.
Segundo os autos, a professora, “a pretexto de desenvolver a criatividade de seus alunos da 2ª série do ensino fundamental”, distribuiu o seguinte material (fls 14/17):

Garoto negro é expulso de restaurante por ser confundido como mendigo

Texto de Mário Sérgio em Luis Nassif Online

Com a arrogância típica de ignorantes, o gerente admitiu que teria sido ele mesmo o autor de tal atitude racista

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Negar o racismo no Brasil é se esquivar do problema
Neste final de ano pude testemunhar e viver a vergonha dessa praga do rascismo aqui em nossa multicultural São Paulo. E com pessoas próximas e queridas. Não dá para ficar calado e deixar apenas o inquérito policial que abrimos tomar conta dos desdobramentos desse episódio lamentável e sórdido.
Na sexta feira, 30, nossos primos, espanhóis, e seu pequeno filho de 6 anos foram a um restaurante, no bairro Paraíso (ironia?) para almoçar. O garoto quis esperar na mesa, sentado, enquanto os pais faziam os pratos no buffet, a alguns metros de distância. A mãe, entre uma colherada e outra, olhava para o pequeno que esperava na mesa. De repente, ao olhar de novo, o menino não mais estava lá. Tinha sumido.
Preocupada, deixou tudo e passou a procurá-lo ao redor. Ao perguntar aos outros frequentadores, soube que o menino havia sido retirado do restaurante por um funcionário de lá. Desesperada, foi para a rua e encontrou-o encolhido e chorando num canto. Perguntado (em catalão, sua língua) disse que “o senhor pegou-me pelo braço e me jogou aqui fora“.
O casal e a criança voltaram para o apartamento de minha sogra e contaram o ocorrido. Minha sogra que é freguesa do restaurante, revoltada, voltou com eles para lá. Depois de tergiversações, tentativas de uma funcinária em pôr panos quentes, enfim o tal sujeito (gerente?) identificou-se e com a arrogância típica de ignorantes, disse que teria sido ele mesmo a cometer o descalabro. Mas era um engano, mas plenamente justificável porque crianças pedintes da feira costumavam pedir coisas lá e incomodar. E que ele era bom e até os alimentava de vez em quando. Nem sequer pediu desculpas terminando por dizer que se eles quisessem se queixar que fossem à delegacia.
Minha sogra ligou-me e, de fato, fomos à delegacia do bairro e fizemos boletim de ocorrência. O atendimento da delegada de plantão foi digno e correto. Lavrou o BO e abriu inquérito. Terminou pedindo desculpas e que meus primos não levem uma impressão ruim do Brasil.
Em tempo: o filho de 6 anos é negro. Em um e-mail (ainda não respondido pelo restaurante Nonno Paolo) pergunto qual teria sido a atitude se o menino fosse um loirinho de olhos azuis. 

Olhos Azuis, a dor do preconceito

A professora e socióloga Jane Elliott ganhou um Emmy pelo documentário de 1968 “The Eye of the Storm”, em que aplicou um exercício de discriminação em uma sala de aula da terceira série, baseada na cor dos olhos das crianças.
Hoje aposentada, aplica workshops sobre racismo para adultos. “Olhos Azuis” é a documentação de um desses workshops em que o exercício de discriminação pela cor dos olhos também foi aplicado.
O objetivo do exercício é colocar pessoas de olhos azuis na pele de uma pessoa negra por um dia.
Para isso, ela rotula essas pessoas, baseando-se apenas na cor dos olhos, com todos rótulos negativos usados contra mulheres, pessoas negras, homossexuais, pessoas com deficiências físicas e todas outras que sejam diferentes fisicamente.
Numa palestra com um auditório lotado, ela pergunta: “Se algum branco gostaria de receber o mesmo tratamento dado aos cidadãos negros em nossa sociedade, levante-se. (…) Ninguém se levantou. Isso deixa claro que vocês sabem o que está acontecendo. Vocês não querem isso para vocês. Quero saber por que, então, aceitam isso e permitem que aconteça com os outros.”
Assista abaixo o documentário completo dividido em nove partes:
(Parte 1)
(Parte 2)
(Parte 3)
(Parte 4)
(Parte 5)
(Parte 6)
(Parte 7)
(Parte 8)
(Parte 9)

Estagiária negra é forçada a alisar cabelo para preservar ‘boa aparência’

‘O padrão daqui é cabelo liso’. disse a patroa.

Racismo negra cabelo liso estagiária
A estagiária Ester Elisa da Silva Cesário acusa seus superiores de perseguição e racismo. Conforme Boletim de Ocorrência registrado no dia 24 de novembro, na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) de São Paulo, ela teria sido forçada a alisar o cabelo para manter a “boa aparência”. A diretora do Colégio Internacional Anhembi Morumbi ainda teria prometido comprar camisas mais compridas para que a funcionária escondesse os quadris.
Ester conta que foi contratada no dia 1º de novembro de 2011, para atuar no setor de marketing e monitorar visitas de pais interessados em matricular seus filhos no colégio, localizado no bairro do Brooklin, na cidade de São Paulo. A estagiária afirma ter sido convocada para uma conversa na sala da diretora, identificada como professora Dea de Oliveira. Nos dias anteriores, sempre alguém mandava recado para que prendesse o cabelo e evitasse circular pelos corredores.
“Ela disse: ‘como você pode representar o colégio com esse cabelo crespo? O padrão daqui é cabelo liso’. Então, ela começou a falar que o cabelo dela era ruim, igual o meu, que era armado, igual o meu, e ela teve que alisar para manter o padrão da escola.”
Além das advertências, Ester afirma ter sofrido ameaças depois de revelar o conteúdo da conversa aos demais funcionários do colégio. Eles teriam demonstrado solidariedade ao perceber que a estagiaria estava em prantos no banheiro.
“Depois disso, eu me vesti para ir embora e, quando estava saindo, ela me parou na porta e disse: ‘cuidado com o que você fala por aí porque eu tenho vinte anos aqui no colégio e você está começando agora. A vida é muito difícil, você ainda vai ouvir muitas coisas ruins e vai ter que aguentar’.”
Colégio se defende
Após contato da reportagem, um funcionário indicado pela Direção do Anhembi Morumbi informou que a instituição não recebeu nenhuma notificação sobre o registro do Boletim de Ocorrência. Ele negou a existência de preconceito e se limitou a dizer que “o colégio zela pela sua imagem e, ao pregar a ‘boa aparência’, se refere ao uso de uniformes e cabelo preso”.
A advogada trabalhista Carmen Dora de Freitas Ferreira, que ministra cursos no Geledés – Instituto da Mulher Negra – assegura que a expressão “boa aparência” é usada frequentemente para disfarçar preconceitos.
“Não está escrito isso, mas quando eles dizem ‘boa aparência’, automaticamente estão excluindo negros, afrodescendentes e indígenas. O padrão é mulher loira, alta, magra, olhos claros. É isso que querem dizer com ‘boa aparência’. E excluir do mercado de trabalho por esse requisito é muito doloroso, afronta a Lei, afronta a Constituição e afronta os direitos humanos.”
Métodos conhecidos
De acordo com o depoimento da estagiária, as ofensas se deram em um local reservado. A advogada explica que essa prática é comum no ambiente de trabalho, além de ser sempre premeditada.
“O assediador sempre espera o momento em que a vítima está sozinha para não deixar testemunhas, mas as marcas são profundas. O preconceito é tão danoso, que ele nega direitos fundamentais, exclui, coloca estigmas, e a pessoa se sente humilhada, violentada. Quando o assediador percebe a extensão do dano, ele tenta minimizar, dizendo ‘não foi bem assim, você me interpretou errado, eu não sou discriminador, na minha família, a minha avó era negra’.”
Ester ainda afirma que teria sido pressionada a deixar o trabalho, ao relatar o ocorrido a uma conselheira do Colégio. Como decidiu permanecer, passou a ser vigiada constantemente por colegas.
“Eu estou lá e consegui passar numa entrevista porque sou qualificada para o cargo, mas ela não viu isso. Ela quis me afrontar e conseguiu abalar as minhas estruturas emocionais a ponto de eu me sentir um lixo e ficar dois dias trancada dentro de casa sem comer e sem beber. Você pensa em suicídio, se vê feia, se sente um monstro.”
Sequelas e legislação
Ester revela que as situações vividas no trabalho mexeram com sua auto-estima e também provocaram grande impacto nos estudos e no convívio social.
“Desde que isso aconteceu, eu não consigo mais soltar o cabelo. Quando estou na presença dela eu me sinto inferior, fico com vergonha, constrangida, de cabeça baixa. É a única reação que eu tenho pela afronta e falta de respeito em relação a mim e à minha cor.”

O Boletim de Ocorrência foi registrado como prática de “preconceito de raça ou de cor”. A Lei Estadual nº 14.187/10 prevê punição a “todo ato discriminatório por motivo de raça ou cor praticado no Estado por qualquer pessoa, jurídica ou física”. Se comprovado o crime, os infratores estarão sujeitos a multas e à cassação da licença estadual para funcionamento. 

Presidenta afirma - promoção da igualdade de gênero, racial e regional deve ser uma obsessão no Brasil

Data: 13/03/2012
Declaração foi feita durante solenidade de entrega do Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz, através do qual o Senado homenageia mulheres destacadas na defesa dos direitos femininos e nas questões de gênero
Presidenta afirma - promoção da igualdade de gênero, racial e regional deve ser uma obsessão no Brasil
Homenagem a Dilma dá tom histórico à 11a edição do Bertha Lutz
“Temos que lutar pela igualdade racial junto com a igualdade de gênero”, afirmou a presidenta Dilma Rousseff ao agradecer pelo título Mulher-Cidadã Bertha Lutz 2012, recebido na manhã de hoje (13), em sessão solene no Plenário do Senado Federal. Num discurso em que associou o crescimento do país à redução das desigualdades de gênero, de raça e regional, a presidenta disse ainda que a promoção da igualdade deve ser uma obsessão no Brasil para que todos os brasileiros tenham oportunidades iguais.

Criado pelo Senado Federal em 2001, o Diploma Bertha Lutz premia anualmente, mulheres que se destacam na defesa de direitos femininos e em questões de gênero. Além da presidenta Dilma Rousseff, a 11ª edição do prêmio agraciou outras quatro mulheres de diferentes áreas: a acadêmica Ana Alice Alcântara Costa; a militante comunista Maria do Carmo Ribeiro (Maria Prestes); a ativista na luta pelos direitos das mulheres, Rosali Scalabrin; e a primeira senadora do Brasil, Eunice Michiles Malty.

O projeto é também uma homenagem a Bertha Lutz, uma das pioneiras do feminismo no Brasil, conhecida como grande líder na luta pelo direito ao voto para as brasileira

O negro e a loira no refeitório: Uma verídica história contra racismo e xenofobia

Uma história contra o racismo, preconceito e xenofobia

Racismo não
Racismo não
Estamos num refeitório estudiantil, de uma universidade alemã. Uma aluna loirinha e indiscutivelmente germânica retira seu bandejão com o prato do dia e vai se sentar em uma mesa. Então, descobre que esqueceu de pegar os talheres, e volta para buscá-los. Ao regressar, descobre com surpresa que um rapaz negro – a julgar por seu aspecto, vindo provavelmente de algum lugar bem ao sul do Saara – tinha se sentado no seu lugar, e estava comendo da sua bandeja.
No começo, a garota se sente desconcertada e agredida, mas logo corrige seu pensamento inicial e supõe que o africano não está acostumado ao sentido de propriedade privada e de intimidade do europeu, ou quem sabem não tenha dinheiro suficiente para comprar sua própria comida, apesar de a bandeja universitária ser até barata, considerando o elevado custo de vida do seu rico país.
A garota, portanto, decide se sentar em frente ao sujeito, sorrindo amistosamente, o que o rapaz negro responde com outro sorriso pacífico. Em seguida, a alemã começa a comer da comida que está na bandeja em frente aos dois, tentando demonstrar a maior naturalidade possível, compartilhando aquela refeição com o colega com saborosa generosidade e cortesia. Assim, ele vai comendo a salada, enquanto ela aproveita a sopa, ambos beliscam igualitariamente o mesmo refogado, até limpar o prato, até que ele escolhe o iogurte de sobremesa, enquanto ela prefere a fruta. Tudo isso acompanhado de diversas expressões educadas, tímidas por parte do rapaz, suavemente condescendente e compreensivas por parte dela.
Terminado o almoço, a aluna alemã se levanta para ir buscar um café. E então descobre, na mesa que estava logo atrás dela, sua própria jaqueta colocada sobre o braço de uma cadeira, e em frente a esta, uma bandeja de comida intacta.
  • Dedico esta história deliciosa, que além do mais é verídica, a todos aqueles espanhóis (nota do tradutor: e se poderia extender também aos brasileiros) que no fundo nutrem um enorme receio pelos imigrantes e os consideram indivíduos inferiores. A todas essas pessoas que, ainda que bem intencionadas, observam o mundo com condescendência epaternalismo. Será melhor se nos livramos dos prejuízos, ou corremos o risco de fazer o mesmo ridículo que a pobre alemã, que pensava ser o cúmulo da civilização, enquanto o africano, ele sim imensamente educado, a deixou comer de sua bandeja, talvez pensando: “acho que esses europeus estão mesmo malucos”.
Por Rosa Montero, para o diário espanhol El País, Tradução de Victor Farinelli

Policiais torturam jovem negro com choques nos genitais e na língua; OAB denuncia barbárie

Jovem de 19 anos foi submetido a choques no peito, nos genitais, na língua e teve um saco colocado na cabeça para não respirar. “Vamos levar ele para a desova”, teria dito um dos homens. Ismael começou a rezar. Comando admite culpa e afasta dois suspeitos

jovem negro torturado polícia uberaba
Ismael da Conceição é servente de pedreiro
Desde que foi liberado da delegacia, na madrugada de domingo, o servente de pedreiro Ismael Ferreira da Conceição se limita a andar do quarto para a sala. O jovem de 19 anos, que tem um problema na perna esquerda, passou a caminhar com ainda mais dificuldade. Ele se queixa de dores causadas por uma sessão de agressões e choques que durou cerca de cinco horas.
Em um relato corroborado pela família, vizinhos e advogada, Ismael diz ter sido seguidamente torturado por policiais militares – após supostamente ser confundido com um assaltante – dois dias depois da ocupação de 12 comunidades do Uberaba (PR), ocorrida na última quinta-feira, na capital. O caso foi denunciado ontem pela Comissão de Direitos Hu­­manos da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Paraná. O Comando da Polícia Militar reconheceu o fato e informou que dois PMs foram afastados preventivamente.
Ismael conta que às 17 horas do último sábado recebeu um telefonema de um amigo convidando-o para sair. Ele havia acabado de chegar em casa após o fim da jornada de trabalho. De banho tomado, montou na bicicleta e foi em direção ao ponto de encontro, na casa de um deles.
Após pedalar por algumas quadras, foi avistado por uma viatura da PM que participa da Unidade do Paraná Seguro (UPS). Segundo ele, o veículo fez a volta e bloqueou a passagem. “Passou por nós, azar o seu. Cadê a arma?”, perguntou um dos policiais saindo da viatura. Ismael disse que não tinha qualquer arma. Outro policial o derrubou da bicicleta e, com o servente no chão, apertou-lhe a garganta. Outro deu um chute nas costelas e perguntou mais uma vez sobre uma arma.
Ismael respondeu pedindo para que os policiais o acompanhassem até em casa, onde poderia apresentar documentos. Foi então colocado no camburão. Segundo ele, xingamentos racistas começaram a pipocar, e se tornaram a forma-padrão de tratamento até o fim do cativeiro. O rapaz demonstrou preocupação com a bicicleta, que permanecia tombada na rua. “Tua bike já era. Tu tá preso”, comunicou um policial.
Dez minutos depois, a viatura chegou à casa de Ismael. A família do jovem vive em Piraquara, no entanto ele mora com os patrões. Cinco anos atrás, Ismael conheceu Cristiano, o filho cadeirante de Lairi Inez Campiol, 52 anos, e Celso Luís Pereira, de 36 anos, proprietários de uma pequena empresa de acabamentos em construção civil. Cristiano convidou Ismael para participar do time de basquete em cadeira de rodas da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Quando os pais se mudaram para a região metropolitana, o que impossibilitaria a rotina de treinamentos, os pais do amigo o acolheram. E lhe deram um emprego.
Segundo Lairi, os policiais entraram na casa e começaram a vasculhar os cômodos, abrindo armários e jogando objetos no chão. Disseram que estavam procurando armas. “Temos um flagrante. Ele confessou que fez um assalto e a vítima já o reconheceu”, disse um PM. Enquanto isso, Ismael permanecia trancado na viatura estacionada do outro lado da rua. Ninguém podia vê-lo. Celso perguntou pelo funcionário. Os policiais foram até o camburão e retiraram o rapaz. Levaram-no até o quintal, mas não deixaram ninguém tocá-lo ou conversar com ele.

“Fui espancado, sufocado e levei choques”, diz vítima

Após a busca no imóvel, que se revelou infrutífera, a patrulha foi embora levando Ismael. Os donos da casa perguntaram o que seria feito do garoto. Os policiais informaram que ele estava preso, mas não revelaram para qual delegacia seria levado.
abuso polícia dona casa
A dona de casa Lairi Inez Campiol, que dá abrigo a Ismael, mostra a casa no Uberaba revirada depois da passagem da polícia
No meio da confusão que se formou na rua, um vizinho passou para o casal o número de telefone de uma advogada. “Nunca precisamos de um profissional da área criminalística, então não sabíamos o que fazer”, lembra Lairi Inez Campiol.
A advogada Raquel Farah, 46 anos, atendeu à ligação de Lairi enquanto se preparava para atender a uma ocorrência no 8º Distrito Policial. Ao ouvir a história, se comprometeu a tentar descobrir o paradeiro de Ismael.
O jovem, entretanto, não foi levado a uma delegacia. A primeira parada foi em um descampado. O servente diz ter identificado cinco policiais, que se alternaram distribuindo chutes, socos e estrangulamento. “Se você contar onde é a boca, a gente te solta”, teria dito um deles.
Após um tempo que o agredido é incapaz de estimar, foi mais uma vez trancado no carro. Ele lembra que ficou um bom período na viatura parada, dentro do porta-malas, como se os policiais tivessem retornado ao posto.
A próxima parada foi em uma construção pequena, com duas camas, três armários e um computador. Ismael supõe que se trata de um posto policial. Ali, segundo ele, voltou a ser agredido. Alguns rostos eram novos. Também foi submetido a choques no peito, nos genitais e na língua. “Vamos levar ele para a desova”, teria dito um dos homens. Ismael começou a rezar.

Na delegacia: “Eles desistiram de você”

Eram 21 horas quando Ismael da Conceição foi levado algemado até o Hospital Cajuru para tratar dos ferimentos. “Não diga que você está sentindo dor”, ameaçou o homem que o escoltava. Às 22h30, foi finalmente entregue ao 8º DP. A advogada Raquel Farah havia sido informada da chegada apenas 15 minutos antes.
Na delegacia, os PMs apresentaram uma arma de brinquedo como pertencente a Ismael. O que se seguiu, segundo a advogada, foi uma discussão entre policiais civis e militares, ouvida ao longe também por Lairi Campiol e Celso, que haviam acabado de chegar. Os agentes da delegacia apontavam a inconsistência da prova.
A vítima do assalto chegou para fazer o reconhecimento. Ismael foi colocado ao lado de dois outros detidos. Apesar de a roupa ser semelhante à do autor do roubo (tênis branco, calça jeans e camisa xadrez), o biotipo não batia. O assaltante era alto e magro, Ismael é mediano e troncudo.
A delegada de plantão o liberou às 4 horas da madrugada de domingo. Ismael não conseguia andar sozinho e estava zonzo. Foi embora carregado. “Eles simplesmente desistiram de você”, justificou um policial civil.

OAB afirma que caso arranha credibilidade do programa UPS

Para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a tortura sofrida por Ismael da Conceição tira a credibilidade da primeira Unidade do Paraná Seguro (UPS) instalada no estado. “Esse episódio coloca em dúvida se esse programa, que era necessário na cidade, terá condições de diminuir a violência nos bairros. Ainda mais quando os acusados são policiais militares”, afirma a vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da seção Paraná da OAB, Isabel Mendes.
De acordo com ela, a denúncia partiu dos próprios moradores do bairro, que viram o jovem sendo levado pela polícia. “Acompa­­nhamos o exame de corpo delito no Instituto Médico Legal e foi confirmado que o rapaz foi torturado. Ele apanhou e levou choques elétricos. Os policiais ainda colocaram um saco plástico em sua cabeça para ele ficar sem respirar por algum tempo”, relata Isabel.
A Comissão de Direitos Hu­­ma­­­nos da OAB comunicou oficialmente o fato à Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Seju) na manhã de ontem. A secretária Maria Tereza Uille Gomes determinou que uma equipe da Seju acompanhasse Isabel até o Uberaba. (DA)

Pânico e revolta

Ao longo das 36 horas seguintes, Ismael e Lairi não voltaram a sair para a rua. A dona da casa não acredita que eles possam ser ameaçados novamente, mas Ismael está em pânico. Sua conversa é calma, mas os olhos permanecem sempre arregalados. Lairi entoa indignação. “A gente não pode aceitar isso. Senão vai ter mais vítimas”, avalia.
Ela lembra que na quinta-feira, dia da ocupação, a família ficou feliz ao ver a polícia no bairro. Imaginava que aquele seria o começo de um prolongado período de tranquilidade. “Nos tornamos vítimas, quando deveríamos estar recebendo proteção.” Na manhã de domingo, dois policiais da Unidade do Paraná Seguro – que nada têm a ver com o ocorrido – visitaram cada uma das casas da rua para perguntar aos moradores como eles avaliavam a atuação do destacamento. Lairi discorreu longamente sobre o que se passou com seu protegido. “Isso nós não estamos sabendo”, ponderou o patrulheiro.

Porta-voz da PM reconhece que houve excesso

A Polícia Militar confirmou no fim da tarde de ontem que identificou dois policiais suspeitos de ser os responsáveis pela tortura do servente de pedreiro Ismael da Conceição no Uberaba. Se­­gundo o major Antônio Zanata Neto, porta-voz da PM, será instaurado um inquérito policial para apurar de fato o que aconteceu. Se confirmada a culpa, os PMs envolvidos podem até ser expulsos da corporação.
“Um oficial da Polícia Militar foi até o Instituo Médico Legal e acompanhou o exame de corpo delito. Foi confirmado que houve tortura por parte da Polícia Militar”, admitiu o major. Para acompanhar o inquérito será solicitado o acompanhamento de um promotor público.
Henry Milléo, Gazeta do Povo