sábado, 20 de agosto de 2011

Palmares 23 anos: Celebração à cultura afro-brasileira






Por Fernanda Lopes e Joceline Gomes 
Uma celebração à cultura afro-brasileira. Esta é a melhor definição para os shows que encerraram as comemorações do 23º aniversário da Fundação Cultural Palmares, na noite da última quinta-feira (18), no Teatro Nacional de Brasília. O rapper GOG abriu a festa com sucessos consagrados como “Brasil com P” e músicas inéditas do novo CD Negras Raízes, que será lançado em novembro, mês da Consciência Negra. 
Durante todo o show, Gog homenageou Abdias Nascimento e outros nomes que marcaram a história do movimento negro, incluindo a Fundação. “Me emocionei quando abri o folder da Palmares e vi Abdias, Leci e Gog na mesma página”, disse o rapper ao traçar uma linha do tempo do movimento negro no Brasil.  
Dois telões apresentavam intervenções audiovisuais, que ajudavam a compor o ambiente de protesto social das letras do “poeta do Rap nacional”. Gog emocionou a plateia ao convidar a cantora Marielhe Borges para cantar “Carta a Mãe África”, música onde parafraseia Elza Soares: “A carne mais barata do mercado é a negra”. 
Além da cantora Marielhe o rapper convidou Igor Melo e Máximo Mansur para cantar a inédita “África Tática”, escrita em parceria com o poeta Nelson Maca. A música fala sobre a influência da cultura africana no Brasil e da tática de sobrevivência dos negros que para cá vieram. 
Foto: Joceline Gomes / FCPFoto: Joceline Gomes / FCP
GOG apresenta seu mais novo CD – Negras Raízes
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Em parceria com Marilhe Borges, Máximo Mansur, Higo Melo
Samba de primeira – A cantora Leci Brandão levantou a plateia desde seus primeiros acordes. Vestida de rosa, homenageando a Mangueira, sua escola de samba de coração, a cantora abriu o show com a música “Hino de Exaltação a Mangueira”, porém não deixou de homenagear as outras escolas, cantando sambas-enredo da Portela e do Império Serrano. 
Convocou o público a ir para frente do palco e sambar com suas “canções afirmativas”. Apresentou apenas sambas de compositores negros e exaltou várias classes trabalhistas, entre eles os agentes culturais e professores. “Se há alguns anos os governantes tivessem se preocupado mais com a educação o cenário hoje seria outro”, enfatizou. 
Lembrou a importância de mulheres negras no samba e sua exclusão na mídia por seus estereótipos ao cantar sambas consagrados de Dona Ivone Lara e Jovelina Pérola Negra. Leci reiterou a importância do empoderamento da mulher negra e convidou as presentes a se engajarem nessa luta. 
Com 36 anos de carreira e uma vida de militância, a cantora lembrou com carinho da criação da FCP. “Estive presente na criação da Palmares e nunca imaginei que hoje estaria aqui, celebrando seus 23 anos”. 
Foto: Joceline Gomes / FCPFoto: Joceline Gomes / FCP
A cantora Leci Brandão com sua banda
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Vestida de rosa, a cantora homenageia a escola de samba Mangueira
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Leci convidou e a plateia foi para a frente do palco

A Cultura como veículo de erradicação da miséria





Por Daiane Souza
“A erradicação da miséria é o caminho para um país mais justo, fraterno e igual”. Com esta frase o presidente Eloi Ferreira de Araujo, da Fundação Cultural Palmares, abriu o “Seminário Nacional – A cultura como veículo de erradicação da miséria”, na noite da última terça-feira (16).  O evento que acontece até dia 18 de agosto, no St. Peter Hotel, em Brasília, tem por objetivo reunir ideias, propostas e ações para o enfrentamento da extrema pobreza a que estão expostos 16 milhões de brasileiros, a partir da promoção e valorização da cultura, sobretudo, a cultura afro-brasileira.
De acordo com o presidente da FCP, a proposta é debater a construção de mecanismos para que seja assegurado o acesso aos bens culturais, econômicos e aos direitos fundamentais a população negra, que representa 70% dos pobres e 71% dos indigentes no Brasil, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Na mesa de abertura do seminário estavam: Horácio Senna e Carlos Alberto Reis de Paula, ministros do Tribunal Superior do Trabalho; Afonso Florence, ministro do Desenvolvimento Agrário; Luiza Bairros, ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e Elisa Larkin, esposa de Abdias Nascimento.
Na ocasião, o ministro do Desenvolvimento Agrário destacou que o país acaba de passar por um momento importante que reflete o empenho da gestão Dilma Rousseff no trabalho de erradicação da miséria. “Mais de 35 milhões de pessoas passaram a constituir a classe média, 28 milhões saiu da situação de extrema pobreza. Destes, quatro milhões estavam em áreas rurais e tiveram incrementos em sua renda”, apontou.
Para ele, embora os resultados sejam positivos ainda falta muito para reparar uma situação promovida por séculos de escravidão e a Fundação Palmares mostra sua envergadura ao levantar o tema à sociedade. 
MISÉRIA X CULTURA - A ministra Luiza Bairros da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) alertou para a importância do evento, que durante dois dias vai discutir a cultura como veículo de erradicação da miséria. “Temos um desafio importante: ‘miséria’ e ‘cultura’ são palavras opostas, uma vez que a cultura negra representa nossa maior riqueza. É prova da resistência que tivemos neste país, de como nos mantivemos”, afirmou.
Para Luiza Bairros, o seminário é uma possibilidade de reflexão para o que significa a situação de miséria ainda existente no país. Em concordância, Carlos Alberto Reis de Paula, ministro do Tribunal Superior do Trabalho, ressaltou que a parcela da sociedade constituída por mais da metade da população não pode ser marginalizada.
Eloi Ferreira de Araujo completa afirmando que um bom começo seria a garantia real dos direitos. “As religiões de matriz africanas, por exemplo, ainda não têm os mesmos direitos reservados às demais crenças”, pontuou. O ano de 2011 é um ano carregado de simbolismos para a comunidade negra, por isso a valorização da cultura, a melhoria da qualidade de vida das pessoas em situação de extrema pobreza e os direitos fundamentais são apenas alguns dos pontos a serem tratados no seminário.
O presidente lembrou que 2011 foi considerado o Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes pela Organização das Nações Unidas e que o racismo presente em vários países precisa ser considerado no debate, uma vez que, no Brasil, ainda é velado. “A cultura pode mudar essa realidade. Para isso, ela precisa estar inserida no meio governamental e estar a serviço, especialmente da população negra”, disse.
O Seminário Nacional – A cultura como veículo de erradicação da miséria, que conta com a parceria do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), pode ser acompanhado ao vivo pelo Twitter da Fundação Cultural Palmares.
Veja abaixo a galeria de fotos:
Foto: Joceline Gomes / FCPFoto: Joceline Gomes / FCP
Presidente Eloi Ferreira de Araujo fala de desafios para erradicação da pobreza por meio da cultura
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Público acompanha debate de ministros durante abertura do Seminário Nacional – A cultura como veículo de erradicação da miséria
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Eloi Araujo acompanha Afonso Florence, ministro do Desenvolvimento Agrário
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Luisa Bairros (D), ministra da Seppir cumprimenta Eduardo Oliveira, fundador do Congresso Nacional Afro-brasileiro, e Elisa Larkin, esposa de Abdias do Nascimento
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Tereza Lopes solta a voz em Canto das Três Raças composta por Clara Nunes
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Banda celebra cultura negra com samba na voz de Tereza Lopes
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Eloi Ferreira recepciona convidados em Sala Vip do evento