sexta-feira, 13 de maio de 2011

13 de maio – Cidade de Santo Amaro celebra os 123 anos da abolição formal da escravatura

Foto: Welton Araújo/Agência A TardeFoto: Welton Araújo/Agência A Tarde
Roberto Mendes integra a programação comemorativa de Bembé do Mercado
Por Daiane Souza
           Para celebrar a liberdade, é realizado todos os anos, desde 1889, no município de Santo Amaro da Purificação (BA), o Bembé do Mercado. Após 123 anos da primeira festa em comemoração à abolição da escravatura, a manifestação continua ganhando corpo e celebrando as lutas populares contra o cativeiro, a repressão e a discriminação sofridos pelos negros.
           Mais que uma festa, o Bembé do Mercado constitui-se, hoje, em movimento de afirmação dos descendentes de africanos escravizados. Incorporada ao calendário cultural do País, a iniciativa tem forte cunho religioso e evidencia o vigor das manifestações culturais de matriz africana, reafirmando-as como elementos de resistência dos povos negros.
BATALHAApesar da abolição, os negros do Recôncavo Baiano enfrentaram, ainda em 1888, uma grande batalha: assegurar a liberdade de todos os “treze de maio”, como eram pejorativamente chamados os oficialmente libertos, uma vez que muitos foram mantidos escravizados, ao tempo em que seus ex-senhores pressionavam as lideranças parlamentares a revogarem a Lei Áurea.
           Contra represálias e proibições das lutas em favor dos negros pelos barões e pela polícia, milhares de pessoas se reuniram no Mercado de Santo Amaro para “bater Candomblé”, no dia 13 de maio de 1889. O encontro ficou conhecido como Bembé do Mercado e a ele foram incorporadas outras manifestações tradicionais, como o Maculelê, a Capoeira, o Lindroamor e a Burrinha.
FESTIVAL De acordo com Rejane Pieratti, representante do terreiro Ilê Oju Onirê, que coordena o grande encontro, as manifestações dos municípios de Santo Amaro, Acupi e Itapema (todos pertencentes ao Recôncavo Baiano) vão além da reprodução de costumes ancestrais. “São populações negras que carregam tradições culturais evidentes. É um verdadeiro festival de cultura popular”, afirma.
           Rejane diz que o que caracteriza os municípios é o fato de serem culturalmente ricos, havendo uma grande preocupação em manter os costumes, por parte dos jovens. Hoje, o Bembé agrega manifestações populares de todo o País, especialmente das áreas rurais do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, evocando a luta contra a escravidão e consolidando valores importantes da cultura afro-brasileira.
          O presidente da Fundação Cultural Palmares, Eloi Ferreira, participa da agenda do Bembé do Mercado, integrando a mesa de abertura do dia 14 de maio, junto à ministra Luisa Bairros, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), e a Martvs das Chagas, diretor do Departamento de Fomento e Promoção da Cultura Afro-Brasileira da Fundação.

Programação

11 de maio



03h da madrugada – Alvorada de fogos de artifícios
07h – Café da manhã na Praça do Mercado
19h – Capoeira, samba de roda, maculelê e outros grupos
20h – Abertura do Bembé dentro do Barracão

12 de maio

9h às 18h – Encontro de comunidades quilombolas
19h – Capoeira, samba-de-roda e maculelê
20h – Candomblé do Barracão

13 de maio

9h – Capoeira, samba de roda e maculelê
20h – Banda Samba da Gente, Banda Dissidência e Banda Coisa de Pele

14 de maio


18 h – Lançamento do livro A Tradição do Bembé do Mercado, de Jorge Veloso
19h – Capoeira, maculelê e lindroamo
21h – Candomblé no Barracão
00h – Show de Roberto Mendes
02h – Show Marisélia e os Coisinhos

15 de maio

10h – Entrega do presente na praia de Irapema
A partir de 10h – Apresentação de Samba de Roda
12 horas – Almoço para 300 pessoas


Criação: Daniel Cabral

13 de Maio – Dia de reflexão para os afro-brasileiros em todo o País

Foto: Joceline Gomes/FCPFoto: Joceline Gomes/FCP
Parque Quilombo dos Palmares, um símbolo da resistência negra à escravidão


Por Joceline Gomes e Suzana Varjão*
            
             Celebrado nacionalmente, o 13 de maio é uma data controversa do calendário de lutas do movimento negro brasileiro. O dia marca a assinatura da Lei Áurea, que determinou a libertação de todos os escravizados no País. Mas é comemorado com reservas, por não contemplar o protagonismo dos negros e das negras durante o processo que culminou na abolição formal da escravatura.
              Eventos por todo o País estimulam a discussão sobre o que a abolição representou na vida dos afro-brasileiros e os motivos para celebrá-la. O presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Eloi Ferreira de Araujo, participará de uma vasta programação durante a semana em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco, contribuindo para as discussões.
RESISTÊNCIA – A Lei Áurea é, incontestavelmente, um marco histórico, pois impulsionou a libertação dos cerca de 800 mil negros mantidos no cativeiro no Brasil em 1888. Mas é indiscutível também que a abolição formal não resolveu questões essenciais para promover a real inclusão dos ex-cativos na sociedade brasileira – ponto das reflexões propostas pelo movimento negro.
             A resistência dos escravizados, o grande número de fugas e a construção de centenas de quilombos indicavam que o sistema escravista estava prestes a ruir muito antes de 1888. Revoltas como a dos Malês, do Queimado e dos Alfaiates demonstravam o descontentamento das diversas camadas da sociedade, sobretudo, das populares, com o regime.
PALMARES – Uma das mais contundentes manifestações de resistência dos negros escravizados foi a criação do Quilombo dos Palmares – o maior da América Latina. Fundado pela princesa congolesa Aqualtune, mãe do lendário Ganga-Zumba, foi instalado na Serra da Barriga, no município de União dos Palmares, no estado de Alagoas.
             Criado no final de 1590, o Quilombo tornou-se um Estado autônomo, resistindo por quase cem anos aos ataques holandeses, luso-brasileiros e de bandeirantes paulistas e agregando negros e indígenas que fugiam do trabalho escravo. Em 1695, Palmares foi totalmente destruído, um ano após a morte de Zumbi dos Palmares, seu líder, no dia 20 de novembro.
20 DE NOVEMBRO – A data é comemorada em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra, por afirmar o papel ativo dos negros e negras durante o longo e sangrento processo que resultou na emancipação desse segmento social. A data é um contraponto ao 13 de maio, no qual a simbologia dominante é a de uma princesa branca concedendo a negros escravizados, submissos e passivos o bônus da liberdade.
             O que se questiona é que a Lei Áurea não foi seguida por medidas efetivas para promover a integração social dos ex-cativos, abandonados à própria sorte. Após mais de 300 anos de sistema escravista, os quase 800 mil libertos não tinham para onde ir, o que comer, ou onde trabalhar, restando-lhes outra longa e sofrida jornada de combate à discriminação, à repressão e à miséria.
MARCOS LEGAIS – A Lei Áurea, assinada em 1888 pela princesa Isabel, foi a primeira legislação produzida em benefício da população negra, mas demonstrou-se insuficiente na promoção dos direitos dos afrodescendentes. Somente 123 anos depois, outro marco legal foi instituído, na perspectiva de saldar a dívida histórica deixada pela escravidão e sua incipiente abolição.
            O Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288, de 20 de julho de 2010) e a mobilização do movimento negro pelas cotas raciais em universidades e concursos públicos têm contribuído significativamente para a diminuição das desigualdades ainda provenientes do período escravocrata, e têm gerado benefícios reais para a população afro-brasileira.
            Por todos esses motivos, o dia 13 de maio é uma data de reflexão, na qual devem ser discutidos os avanços e retrocessos da luta pela inclusão dos negros e negras nos espaços de cidadania desde a abolição formal do sistema escravista. Confira abaixo alguns dos marcos legais estruturados para combater o racismo e garantir os direitos dos povos descendentes de africanos escravizados no País.
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*Colaborou Daiane Souza

Constituição Federal/1988

             A Carta Magna registra, nos “Princípios Fundamentais” e nos “Direitos e Deveres Individuais e Coletivos”, respectivamente, o “repúdio ao terrorismo e ao racismo” e que “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei”. Foi a primeira Constituição da República a estabelecer a prática como crime.
Lei 7.716/1989 (Lei Caó)
             Em vigorar há 20 anos, a Lei 7.719/1989, conhecida como Lei Caó, classifica o racismo como crime inafiançável, punível com prisão de até cinco anos e multa. Porém, a penalidade ainda é pouco aplicada. A maioria das condenações abriga o pagamento de indenizações e multas.
Lei 12.228/2010 (Estatuto da Igualdade Racial)
             Depois de tramitar por quase uma década pelas duas casas legislativas do País, o Estatuto da Igualdade Racial foi sancionado pelo então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010, constituindo-se num marco da luta em defesa dos direitos de cerca de 90 milhões de pessoas. Com 65 artigos, é um instrumento legal que busca a correção de desigualdades históricas.
Lei 3.708/2001 (Cotas raciais)
             A lei que passou a ser aplicada no Vestibular de 2002 da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) instituiu o sistema de cotas para estudantes autodeclarados negros ou pardos, reservando a este segmento um percentual de 40% das vagas das universidades estaduais do Rio. A Universidade de Brasília (âmbito federal) também adotou o sistema, e colocou o assunto no centro do debate nacional, aumentando o número de estudantes negros na rede pública de ensino superior do País. 

Fontes: Blogs do Planalto, Rede escola e Marcilio.

Criação: Daniel Cabral

domingo, 8 de maio de 2011

O Programa Hubert. H. Humphrey

            O Programa Hubert. H. Humphrey é destinado a profissionais brasileiros do setor público e do terceiro setor (ONGs) em meio de carreira, preferencialmente empreendedores sociais, com comprovado potencial de liderança e atuantes nas áreas de: 
  • Desenvolvimento e economia agrícola;
  • Direito (com foco em direitos humanos);
  • Drogas (educação, prevenção e tratamento);
  • Manejo de recursos naturais e meio ambiente;
  • Planejamento urbano e regional (com foco em habitação popular);
  • Políticas e administração de saúde pública;
  • Política e administração de tecnologia (com foco em inovação);
  • Políticas e planejamento educacional (democratização, acesso e equidade do ensino superior);
  • Tráfico de pessoas (políticas de prevenção).
Requisitos para candidatura:

  • Ter nacionalidade brasileira e não ter nacionalidade norte-americano
  • Ser graduado em curso com duração superior a quatro anos
  • Ter no mínimo cinco anos de experiência profissional, até agosto de 2012, após a conclusão do bacharelado
  • Ter fluência em inglês.
Terão prioridade candidatos:
  •   Provenientes de setores sub-representados, por razões socioeconômicas, em programas internacionais de aprimoramento educacional e profissional;
  • Talentosos, com capacidade de liderança, que queiram aprimorar seus conhecimentos em sua área de atuação;
  • Com vinculação profissional com o setor público ou, preferencialmente, com o terceiro setor (ONGs);
  • Com experiência em trabalho ou atividades relacionadas ao desenvolvimento de sua comunidade, grupo social, região ou do País; 
  • Sem experiência educacional ou profissional no exterior.
Benefícios:  
  • Bolsa mensal de US$1,700 a US$ 2,500 de acordo com a localidade
  • Auxílio-instalação de US$ 800 (parcela única) 
  • Subsídio para compra de computador de US$500 (se necessário, parcela única)
  • Auxílio para livros de US$750 (parcela única) 
  • Auxílio para desenvolvimento profissional de US$1,900 a US$2,400 de acordo com a localidade rcela única)
  • Auxílio para viagem internacional de ida ao EUA de US$ 200
  • Auxílio para viagem de retorno ao Brasil de US$ 400 
  • Passagem de ida e volta; seguro saúde, anuidade e taxas escolares.

Palmares cria selo para celebrar o Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes

Criação: Daniel Cabral / FCP   
Por Suzana Varjão   

             No Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes, a Fundação Cultural Palmares (FCP) criou um selo para celebrar a data, instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) para difundir o compromisso mundial de lutar contra o racismo e pela inserção de negros e negras em todos os espaços de cidadania. Fruto de criação coletiva, a marca será usada em documentos e peças promocionais da instituição.     
            O selo comemorativo exprime o compartilhamento de objetivos da Palmares e da Organização das Nações Unidas, por meio da fusão de elementos de suas respectivas marcas. Ao abraçar a causa dos povos da Diáspora Africana, a ONU abraça também as instituições que por ela trabalham – o que o componente gráfico da marca criada pela Palmares procurou traduzir, com o entrelaçamento das duas simbologias.     
DISCURSO GRÁFICO – O slogan do selo-exaltação segue a tipologia da marca da Fundação, reforçando a referência à sua identidade visual – um discurso gráfico que busca notabilizar, internacionalmente, sua nobre missão, de proteger, valorizar e promover a cultura negra; uma forma de dizer que “acreditamos e apoiamos a campanha da ONU”, como pontua o presidente da Palmares, Eloi Ferreira de Araujo.     
          Quem quiser usar o selo comemorativo poderá baixá-lo diretamente do portal da Fundação, onde estará publicado também um sucinto manual de aplicação. A referência ao ano de 2011 foi propositalmente suprimida, uma vez que a intenção é usar o símbolo mesmo após o prazo formal da campanha, cujos desdobramentos ultrapassarão o período oficial das celebrações.     

A campanha  

“A comunidade internacional não pode aceitar que grupos inteiros sejam marginalizados por causa da cor de sua pele” (Ban Ki-moon, Secretário-Geral da ONU).
               O ato que instituiu 2011 como o Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes ocorreu em dezembro passado, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque. E marcou a retomada das resoluções da III Conferência Mundial sobre Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, realizada há dez anos, na cidade de Durban, África do Sul.     
             Um dos signatários do documento que selou o pacto da comunidade internacional pelo fim do racismo, o Brasil reiterou o compromisso firmado nas conferências regionais de 2006 e 2008, quando foram avaliados os avanços e desafios da implementação do Plano de Ação de Durban na América Latina e Caribe; e na conferência de Revisão de Durban, ocorrida em Genebra, em 2009.     
            Dentre os mecanismos estruturados pelo Estado brasileiro para combater a discriminação racial e promover a inclusão e o desenvolvimento da população negra no País destacam-se a criação da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e a sanção da Lei 12.228, de 2010, conhecida como Estatuto da Igualdade Racial.     

Quem somos   


                     Criada em 1988, em decorrência da luta do Movimento Negro, a Fundação Cultural Palmares (FCP) é uma instituição pública vinculada ao Ministério da Cultura que tem a finalidade de promover e preservar a cultura afro-brasileira. Preocupada com a igualdade racial e com a valorização das manifestações de matriz africana, formula e implanta políticas públicas para potencializar a participação da população descendente de africanos escravizados nos processos de desenvolvimento do País
Leia mais sobre o assunto.
O selo comemorativo, com suas variações de cor:
     
Criação: Daniel Cabral / FCP

Pacote que valoriza a cultura negra chega ao circuito educacional

Denise Porfírio/FCPDenise Porfírio/FCP
Nos CDs, são registrados programas que valorizam a cultura afro-brasileira
Por Daiane Souza 

               Chega ao circuito educacional mais uma contribuição para o efetivo cumprimento da lei que obriga o ensino da história e da cultura afro-brasileiras nas escolas: kits do projeto Mestres e Griôs do Brasil. Fruto de parceira entre a Fundação José de Paiva Netto e a Fundação Cultural Palmares (FCP), o material será entregue em bibliotecas, universidades, associações e instituições que valorizam o patrimônio imaterial do País.
               Constituídos por dois DVDs, os pacotes exibem programas interdisciplinares de televisão sobre aspectos culturais afro-brasileiros. Eles integram um conjunto de iniciativas que buscam contribuir para a efetivação da Lei 10.639, de 2003, que torna obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileiras nas escolas públicas e privadas do Brasil.
DISTRIBUIÇÃO – O diretor da Fundação José de Paiva Netto (FJPN) em Brasília, Enaildo Viana, entregou ao presidente Eloi Ferreira, na última terça-feira, 2.000 kits do projeto, para distribuição em instituições educacionais. O material não será disponibilizado a pessoas físicas, pois o objetivo é que sirva de apoio a professores de diferentes disciplinas, com num esforço para popularizar tradições de matriz africana.
               Eloi Ferreira ressalta que o setor cultural do País tem dado importantes passos para o cumprimento da Lei 10.639, mas que é preciso muito mais para que seu objetivo seja plenamente alcançado. E lembra que a obrigatoriedade do ensino sobre a temática também está registrada no Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.288, capítulo II), sancionado em 20 de julho de 2010.
NA PRÁTICA – Temas como tradição oral, congada, jongo e maculelê buscam ampliar a compreensão de professores e estudantes sobre a cultura negra. A professora Waldicéia de Moraes Teixeira da Silva, da Secretaria de Educação do Distrito Federal, crê que a escolha do público-alvo foi a acertada. “É a comunidade escolar de hoje que vai mudar a visão das gerações futuras”, pontua.
               Waldicéia destaca ainda que os materiais que vêm sendo produzidos para dar visibilidade à cultura afro-brasileira são de extrema importância para o resgate da identidade de um país que ainda se utiliza de referências européias para ensinar. “Até pouco tempo, o Estado e os movimentos se preocuparam em divulgar apenas o que já é popularizado, como o Hip Hop. Precisamos trabalhar com o que é nosso”, completa.
              Negra, Armênia da Silva Santos, estudante do segundo semestre de Pedagogia das Faculdades Integradas Unicesp, já pensa em como trabalhar a história da África e dos afrodescendentes em suas aulas. “Tenho em mente oficinas para despertar os alunos para a importância da preservação das tradições”, conta. “O uso do material facilitará o ensino, concretizando o que será explicado em sala de aula”, conclui.

GRIÔS

          Os Griôs são povos que carregam o dom da oratória e transmitem sabedoria popular com facilidade. Meio nômades, são líderes de grupos culturais, geralmente músicos e poetas de cultura popular, na maioria de origem negra, como capoeiristas, congadeiros e jongueiros. Na definição de Thomas Hale (1988), “são responsáveis por uma sabedoria e uma arte verbal presentes nos rituais da vida social”.

ENTREVISTA 

Foto: Suzana Varjão / FCPFoto: Suzana Varjão / FCP
Gravação do programa com o presidente da Palmares (D)
Durante a visita de Enaildo Viana, diretor da Fundação José de Paiva Netto (FJPN) em Brasília, o presidente Eloi Ferreira concedeu entrevista ao programa Boa Vontade Entrevista. Nela, o presidente fala das ações implementadas pela Fundação Cultural Palmares (FCP) com vistas à valorização da cultura dos povos afrodescendentes. A previsão é de que o programa seja transmitido esta semana pela emissora Boa Vontade TV (canal 23 da Sky), em dia e horário a serem definidos.
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2011 foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes.

“Fiscais da cidadania” intensificam o combate a atos de discriminação na internet

                      

Foto: Acervo FCP
Foto: Acervo FCP 
           

              Os brasileiros estão mais atentos e não hesitam em levantar suas vozes para protestar e denunciar casos de homofobia (aversão aos homossexuais), misoginia (discriminação contra as mulheres), xenofobia (aversão a estrangeiros) e racismo (contra negros e indígenas, sobretudo). Como “fiscais da cidadania”, pesquisam e encaminham às autoridades endereços de redes sociais, blogs e sites que pregam o ódio ao outro.
            É o que um grupo de leitores do portal da Fundação Cultural Palmares (FCP) vem fazendo, há alguns meses, ajudando o Governo a aprimorar os mecanismos de fiscalização e repressão às manifestações de discriminação e intolerância. Em pesquisas minuciosas e sempre atualizadas, rastreiam aqueles que se utilizam da internet para difundir conteúdos racistas e agregar pessoas com as mesmas tendências criminosas.
            Agrupados em sites de relacionamento, como o Orkut, principalmente, internautas constroem e/ou seguem slogans como “Lugar de preto é no presídio”, “Pegue sua arma e atire num negro” ou “Negro bom é negro morto” – para citar alguns casos de racismo explícito. Muitas dessas comunidades começaram a ser excluídas a partir de março deste ano, após as denúncias começarem a chegar ao “Fale Conosco” da Palmares.
MISOGINIA – Mas enquanto as comunidades com teor racista estão sendo deletadas, as misóginas permanecem ativas, recebendo mais membros, inclusive. Na comunidade “O mito da mulher decente”, pelo menos três tópicos ferem a integridade moral da mulher, por meio de termos chulos e ofensivos, e descrevem métodos para a prática de crimes contra as pessoas do sexo feminino.
               Numa clara apologia à violência sexual, pedem “Condicional para estuprador já!”; ensinam “Como estuprar uma mulher”; e sugerem que “Mulheres precisam apanhar para serem felizes”. Seguindo o mesmo viés, a comunidade “Estupro é culpa da mulher” argumenta que o fato de as mulheres se vestirem ou se comportarem de uma maneira específica em determinados contextos autoriza os homens a violentá-las…
                Outra comunidade, intitulada “A mulher é inferior ao homem”, lista os supostos motivos pelos quais as mulheres não deveriam ser tratadas com equidade ou respeito – um comportamento misógino injustificável, que atenta contra os direitos humanos da população feminina e precisa ser combatido, por estar na raiz das violências físicas praticadas contra milhares de brasileiras, diariamente.
               Contra os homossexuais, há comunidades como “Jesus não gosta de gays” e “Gay bom é gay morto. Homens são as maiores vítimas das agressões verbais e físicas, vistas como “necessárias”, para “converter” e “corrigir” o “problema”. A violência é incentivada e ensinada em tópicos abertos a qualquer usuário do site, numa incitação criminosa ao ódio na rede mundial de computadores.
XENOFOBIA – Após o terremoto que atingiu o Japão no início de março deste ano, foram criadas páginas debochando do assunto e da população atingida. Comunidades como “Japão, chamem os Power Rangers”, e “Rezo para a destruição do Japão” difundem conteúdo xenófobo contra aqueles que também ajudaram a construir a identidade brasileira.
              O Brasil ainda não possui uma legislação específica para crimes de internet, para punir as pessoas envolvidas em atos como os acima mencionados. Mas uma dupla de amigos foi condenada a dois anos de prisão no Paraná por manter um site com conteúdo ofensivo a negros e judeus, com base no arcabouço legal que criminaliza a prática da discriminação racial.
             No processo, Rodrigo Marcel Ribeiro e Adriano Nunes Motter foram acusados de racismo por usarem termos como “Maldita corja sionista” e “negros malditos”. Em sua defesa, os acusados argumentaram que a manifestação não seria racista e estaria protegida pela liberdade de expressão (sic). O mesmo argumento usado pelo deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), após ter sido denunciado por ato de discriminação.
              Na decisão da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná, o desembargador Luiz Osório Moraes Panza negou os recursos apresentados pelos advogados de defesa: “Os apelantes, conscientes da ilicitude, praticaram, induziram e incitaram a discriminação e o preconceito (…) através da criação do site, de amplo acesso, atingindo a um número indeterminado de pessoas”, escreveu, em relatório.

CRIMES

Racismo e xenofobia são crimes previstos na Constituição Federal, puníveis com multa e prisão, como registrado nas leis 7.716/89 e 12.288/10 (Estatuto da Igualdade Racial). A misoginia e a homofobia, porém, ainda não foram tipificadas. O presidente da Palmares, Eloi Ferreira de Araujo, já solicitou audiência à Procuradoria Geral da República, para dar continuidade ao processo de encaminhamento das denúncias de racismo que chegam à Fundação.
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2011 foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes.