segunda-feira, 19 de março de 2012

Show de barbárie e agressão a negros, crianças e deficientes

logo_afropressS. Paulo - “Proibidão stand-up, onde filho chora, mãe não vê e pedófilo desce a rola”. Essa é a definição de Fábio Gueré, um dos comediantes que integram o elenco do show "Proibidão do Stand-up", em que o músico negro Raphael Lopes, 24 anos, conhecido como Rapha Dan Top, foi comparado a um macaco por Felipe Hamachi, um dos participantes, durante uma apresentação na semana passada no Kitsch Club, casa noturna na Vila Mariana, Zona Sul de S. Paulo.

No shows dos auto-proclamados comediantes, não são apenas negros e crianças os alvos preferenciais. “É melhor comer uma criancinha de 5 anos do que uma cadeirante, porque cadeirante não tem firmeza nas pernas”, foi outra das “piadas” ditas durante o show por Bruninho Mano, segundo Raphael. "Na verdade a piada em que fui comparado a um macaco foi das mais leves", relembra o músico.

Repulsa

Diante do conteúdo das piadas que fazem a apologia aberta à pedofilia, ao racismo e ofensivas aos portadores de deficiência, e da disposição dos seus promotores de continuarem o show e até prometerem novas surpresas para esta segunda-feira (19/03), o advogado, Dojival Vieira, que defende o músico protocolará representação junto ao Ministério Público de S. Paulo, pedindo a adoção de medidas visando impedir a continuidade do que ele chama de “show de horrores” ofensivo à dignidade humana.

O advogado também protocolará outras duas representações: uma na Secretaria da Justiça pedindo a aplicação da Lei 14.187/2010, que pune crimes de discriminação na esfera administrativa e que poderá resultar até no fechamento da casa; e outra na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, pedindo a abertura de Inquérito Policial.

Paralelamente ele prepara ação de indenização por danos morais contra a casa noturna e os promotores do show.

Junto com as representações será juntado dossiê com a propaganda do “Proibidão”, inclusive os diálogos nas redes sociais – twitter e facebook – em que protagonistas como Gueré definem o caráter do "Proibidão".

Solidariedade

O músico tem recebido manifestações de solidariedade de centenas de pessoas, no seu twitter e facebook. “De forma alguma sinto alegria com ocorrido e nem é um tipo de auto-promoção como já disseram por ai, muito pelo contrario. Sinto muita vergonha do Brasil estar conhecendo meu rosto, não pelo talento e pelo dom que Deus me deu, mas porque em pleno século XXI pessoas ainda acham engraçado fazer piadas que zombam de deficiências e comparam pessoas da minha cor com macacos”, afirma.

Desabafo

Numa referência ao episódio, o comediante Bruno Mazzeo, filho do humorista Chico Anísio, desabafou. “Os caras do stand-up são muito unidos tanto na hora de falar o que quiserem, quanto na hora de se revoltar quando sofrem críticas. O termo politicamente incorreto virou salvo conduto para se acharem no direito de falar qualquer coisa. E, quando criticados, se unem para dizer que há censura. Não há. Desculpem-me todos, mas chamar um negro de “macaco”, como fez o rapaz semana passada em Sampa, o que gerou até polícia, não tem nada a ver com humor. Não tem graça. É apenas agressividade. Como foi com a piadinha de Auschwitz tempos atrás", afirmou Mazzeo.

Comediante se diz arrependido

Em entrevista ao Jornal Folha de S. Paulo, Luiz França - um dos organizadores do show - admitiu que não faria a comparação que fez com que o músico negro chamasse a Polícia. “Ele ficou sentido com a piada, que realmente foi pesada”, afirmou. Ele também admitiu que o termo a que os frequentadores foram obrigados a assinar, não tem nenhuma validade jurídica”.

Por sua vez, Hamachi, o autor da piada, disse que não sabe se participará da segunda edição. “De repente pode acontecer alguma coisa e ser melhor eu ficar em casa”, afirmou. Ele também disse temer não ser contratado mais para shows pela repercussão do caso. “Eu acho que vai ter empresa que não vai querer me contratar por um bom tempo”.

Nota da Redação

A Afropress decidiu reproduzir, literalmente, as expressões e termos chulos contidos na matéria, por entender ser essa, a forma mais adequada, de levar aos seus leitores a idéia exata da grave violação aos direitos humanos contida no repertório do referido show.

Veja o vídeo da TV Record

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